sexta-feira, 22 de outubro de 2010
domingo, 3 de outubro de 2010
QUE OUTONO É ESTE
são penas caídas
espalhadas no chão
são rostos da vida
que morrem em vão
despidas das árvores
sem folhas sem folhos
ficam na nudez
no pranto dos olhos
erguidos fantasmas
crepúsculo outonal
no rubro da espera
que atento seduz
ganha-se outra luz
tão só e mais triste
nas sombras em vão
perdidas na cor
espalhadas no chão...
são penas caídas
tolhidas no tempo
deste tempo, são
mágoas aquecidas
tão só acrescidas
no meu coração
isabelmonteiro
quinta-feira, 30 de setembro de 2010

segunda-feira, 6 de setembro de 2010
sábado, 26 de junho de 2010
TUDO SE PERDE AO LONGE ... JÁ NÃO HÁ MAIS NADA!
Tudo se perde ao longe
já não há mais nada.
Sentir é nada
se existir não pode
tanta rota ignorada
Tanto gesto inútil
nessa sombra do repouso vão
que por si se explica
ou talvez não
nada se explica
rigorosamente nada!
Voam as pombas
na imaginação
de um céu volátil
que se abate
quando a chuva cai
se tudo acaba tudo se vai
nada se detém
à sorte dura
Alcova térrea
onde tudo passa e esquece
da alma o refrigério...
ruas sem nome
dos números se é cativo
marmóreo branco
tecido numa só luz
ali mora a verdade na espera sempre em vão
Dormem ciprestes e roseirais sombrios
sussurra o vento, soltam-se os pardais
em lancinantes pios
serenata tardia melancólica e triste
estende-se a vida que o olhar consome
de nunca haver mais nada
prisioneira da inútil estaca
e de uma simples matemática:
nada a somar ou a subtrair
nada a multiplicar ou a dividir
Amálgama confusa do sentir...
quarta-feira, 2 de junho de 2010
sexta-feira, 14 de maio de 2010
aniversário 15/05
te verei chegar
de carro
e no teu olhar distraído
acendendo um cigarro
NUNCA MAIS
te verei chegar
da nossa janela
onde tudo
tinha um sentido
a qualquer hora
que chegasses
e me encontrasses
à espera
NUNCA MAIS
te verei chegar
quando absorta
na distância
ouvia a melodia
do teu assobio familiar
NUNCA MAIS
te verei chegar
paraste no centro
da minha vida
e todo o mundo
que irradiava
à nossa volta
parou
à nossa porta
estática
fico no silêncio
mordendo todo
o passado
que quero
como recordação
Oh!soubesse
eu saboreá-lo
no tempo
de agora
que me foge
e trai
porque nunca mais
te verei chegar!
sábado, 10 de abril de 2010
sexta-feira, 9 de abril de 2010
MOCIMBOA-(SIMBA), terra de leão.
E quando um dia em Lourenço Marquesnço Marques, onde permanecemos durante os primeiros seis meses , me perguntaram qual o nosso destino a seguir e lhes disse que era Mocimboa da Praia...lá para os confins do norte de Moçambique,distrito de Cabo Delgado, a surpresa da resposta era sempre a mesma!Alguns com conhecimento da terra e também à laia de conforto iam dizendo... Para onde a senhora vai e tão novinha. Aquilo é a Coreia do Norte ...vai para onde o sol se esconde...Olhe que até andam os leões a passear nas ruas e os leopardos espreitam as capoeiras e escuta-se, pela noite fora e com horror, o gargalhar das hienas (Kizumbas) e com as chuvadas, as tarântulas entram quase em procissão dentro das casas!!!! Com estas notícias,sentia-me cada vez mais aventureira mas ficava cada vez mais horrorizada! Mas não conseguia medir tais medos. Era a primeira vez que pisava terras de África! E sobretudo o mato africano. Não me mentiram.Ouvi algumas vezes o CANTAR DO SIMBA,leão, no rio Quinhevo que distanciava da nossa casa 5Km!Mas era como se ali estivesse muito perto de nós..."Ih senhora não vais ter medo, não, o simba está a cantar ali no rio Quinhevo". Não sei o que era para eles aquela distância! À noite,também nitidamente ,se ouvia o seu arfar. Só não vi foi os elefantes, mas observei as patas agigantadas desenhadas no chão das picadas, os imensos rastos,o seu cheiro intenso que na selva se espraiava e sentia pavor sempre que acompanhava meu marido, nas suas visitas sanitárias, às regiões de Mueda e de Palma que faziam parte da Circunscrição e Delegacia de Saude de Mocimboa da Praia.E a carrinha lá se ia aguentando pelos trilhos das picadas...Eram 80 Km de suplícios pois ambas as terras, distanciavam 80K. Uma para o interior,outra para o litoral.Escusado será dizer que na época das chuvas não se podia sair para lado nenhum. Somente de avião ou de barco.
E, porque foi este grito que me ficou e me marcou profundamente, o cantar do Simba,e porque tive a oportunidade de conhecer esta, e afinal, maravilhosa terra onde todos juntos, falo das outras famílias ,éramos uma família, incluindo muitos casais de cor,e porque fui feliz e me nasceu lá uma dos filhos , e porque eu soube tão bem abraçar estas e outras viagens das arábias com coragem e entusiamo, e porque tive o ensejo de conhecer os macondes,povo guerreiro e figuras muito peculiares com as suas tatuagens originais e que impunham algum medo e de lidar com as suas mulheres e crianças de forma muito própria,até se humanizarem e porque tudo tinha um encanto inefável, incluindo a sua natureza agreste, e também o centenário e enorme cajueiro que envolvia parte da grande casa que habitámos durante ano e meio, e onde os corvos iam mitigar sedes, bebendo o sumo do caju para tombarem, logo a seguir, tontos no chão...e porque a luz do gerador eléctrico da Administração fechava às 23 horas e ao terceiro sinal dado, tínhamos que acender os pétromax e recorrer também às velas ...E, por tudo isto e tanto por aquilo que juntos vivemos, adaptando-nos a todas as circunstâncias e porque enriquecemos tão exoticamente as nossas vidas e porque volvidos tantos anos, meu Deus, e hoje me sabe tão bem recordar...KANIMAMBO!KANIMANBO!!!!!!!!!!!
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Falam lenços agitados
aos nossos olhos molhados
entre tanta comoção
lenços erguidos perdidos
trazem na sua mensagem
invernos de liberdade
ilusões esperanças mágoas
a este cais da saudade
cais deserto cais sombrio
frágeis tiras de papel
em estranho festival
nas velas soltas ao vento
murmúrio já vem do mar
num suspiro vertical
cerca o silêncio do tempo
segue o navio para o mar
em rasgos de liberdade...
distante longe do tempo
vislumbro ainda a partida
no cais da minha saudade.
segunda-feira, 5 de abril de 2010


Sou uma saudosista por natureza. Mas gosto de ser assim. Não me queixo e ninguém se aborrece. Falo comigo, olho os longes, viajo, olho os espaços, o mar o céu o sol a lua o dia e a madrugada choro rio atropelam-me as recordações arrepelam-me as saudades mas volto sempre... Tanto turbilhão nestes vôos alargados que a memória vai consentindo...Depois tudo tem cheiro cor música ritmo alegria tristeza ansiedade partida regresso...Um vaivem infernal do pensamento deambulante até às tantas da madrugada! Que bom é viajar e ninguém dar por estas minhas ausências. Vou e venho quando quero e sempre que me apetece. Não tenham dúvidas. Sermos donas de nós próprias e sabermos navegar orientando bússolas sermos timoneiros do nosso destino no mar na terra no ar assim olhando flores animais peixes pombas corvos borboletas cigarras em festa os paraísos secretos e tudo libertado e eu vestindo leve saltando leve voando leve cantando sempre a vida breve que foi tão longa verdadeira num sonambulismo adivinhada
...Só não consigo a vibração nas coisas retratadas. Essa a grande luta e a gritante frustração!. O resto é perfeito.Vejo tudo e todos com uma enorme e inesgotável clareza! Demoro o tempo todo que no apetite cabe. Os sentidos abrem-se em leque e quase sinto oiço vejo toco cheiro neste perder países viajando! . E, quanto mais longe me ausento, mais o retrato de tudo é mais perfeito. As acácias em flor o cheiro do caril a forte maresia do Índico o aveludado da paisagem e tudo a perpassar nas coisas de leve quase sussurrando... o zumbir do mosquito o cantar do simba o arrastar do leopardo velho o crocitar do corvo o gargalhar da Kizomba o riso cristalino das crianças o parque dos baloiços as rodas as corridas as cantigas as vozes ai as vozes na voz a chamar...Regresso doloroso. Aceno mais uma vez. A minha liberdade! Esta a minha liberdade amarrada à escrita de onde tudo sai... O grito os olhos rasos de água a garganta apertada o peito dolorido a mágoa a cabeça vazia a memória acordada... Chego ao ponto de
partida. O navio larga as amarras a sirene vibra no espaço o último aceno o marulhar das ondas o mar o céu o dia o Sol a noite as estrelas a lua...Ó meu Deus! Esqueci-me que era hoje o dia da partida. Dia 24 de Agosto de 1957, rumo a África / Moçambique.
Ficarei à espera no cais... "quando se fez ao largo a nau na noite escura/ na praia aquela mulher ficou chorando..."
sexta-feira, 2 de abril de 2010


no chão
sexta-feira, 26 de março de 2010
quinta-feira, 25 de março de 2010
