quinta-feira, 25 de março de 2010


Lá fora, a chuva cai incessantemente e parece não querer deixar-nos tão depressa. A humanidade dolorida segue em frente. Fecha os olhos de míope e conta consigo tão só e defraudada pelos acontecimentos de todos os dias.Chora e lamenta-se todo o tempo. Baralha o próprio tempo. E ninguém para escutar! Para quê perder-se tempo com os outros? Chora talvez porque deixou passar demasiados anos...! Os de ontem, os do passado. E agora, devidamente arrumados em fotos e mensagens do coração, nas prateleiras e nas gavetas dos papéis que mais ninguém lê. Também lhes chamam recordações. Cada um tem a liberdade de viver e de acolher o que mais lhe aprouver. Sem passado não há presente e o futuro é uma incógnita sem referências.Que venham dizer o contrário. Que venha também a Primavera para adoçar o refrigério da alma. Sonolenta a noite cai...E o silêncio conforta estas madrugadas tão cheias de memória. Que vida se viveu tão recheada de espaços de êxtases de sóis de luares... Que trocadilhos os anos somaram sem dar tempo para gozar, pensa-se agora, aquelas horas maravilhosas e verdadeiras. Como se tivessemos todo o tempo acorrentado a nós...Somam-se os anos... Tudo na vida é tão célere! Que é feito dos sonhos arquitectados ontem, na ganânca da juventude ? Dos sonhos construídos em torres de marfim? Tanto amor, tanto amor! Que tempo feliz foi! Fecham-se os olhos e encosta-se a cabeça entre as mãos. Para acordar recordações... Renega-se, logo a seguir, o pensamento que de longe vem na tormenta de um mar longínquo, esvaziado em fluxos e refluxos que já se desfizeram noutras ondas e marés... . São estas as noites em que se permanece mais só e em que se mora mais perto de tudo o que se foi. O bulício do dia causa-nos naúseas e cansaços. Quanto ao vento que sempre sopra rijo por estes lados, continua bailando com a chuva. Até a velha palmeira hirta e desgrenhada que se ergue por detrás do espaço em que se habita, vai vencendo as intempéries. Resiste. A humanidade também vai resistindo sem saber bem porquê e até quando! E a divagação já não tem discurso que se endireite. É noite alta. No refúgio, na vida que nos vai restando... Chove lá fora...Sinfonia de rendilhados breves que ninguém ousa pintar. Só eu, assim tão verdadeira como a chuva que batendo na vidraça clama ou chama? Como se não houvesse mais ninguém para a escutar! O estalido na madeira o calor do espaço o silêncio do vazio...são horas e o amanhã é para acordar. São três horas da manhã. Boa noite!

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