quinta-feira, 24 de setembro de 2009







Chegámos a Mocímboa da Praia numa manhã ardente de verão africano! A viagem de Lourenço Marques até aquelas paragens demorou dois longos dias. Embarcámos no paquete Principe Perfeito até à Ilha de Moçambique onde desembarcámos. Eu, o meu marido e um filho de dois anos, o Zé. Ali fomos recebidos pelo Delegado de Saude e sua família que, para nós, naquelas lonjuras, se tornou o melhor porto de abrigo, já que deixávamos Portugal e a família pela primeira vez. Recordo, com saudades, que levava dobrado no braço um rico e lindo casaco de caraculo verde, que aos olhos de todos se traduzia por um belo agasalho de inverno! E, logo, o colega do meu marido, que nisso reparou, me disse, desta forma irónica:-Oiça lá, por que é que trás esse casacão para África? Fique sabendo que quando chegar ao destino, terá que o guardar na arca porque nunca o vestirá!...Estava longe de saber que tipo de calor iria enfrentar!!... Lá me agarrei ao casaco com mais força, numa tentativa de protecção do mesmo e com imensa pena de não o poder exibir. E, de facto, assim aconteceu. Grande sentença. Lá ficou guardado numa das minhas arcas, durante alguns anos que permanecemos em África, exceptuando Lourenço Marques e Vila Cabral, onde o frio se fazia sentir, na época do cacimbo. Também, nunca pensei poder suportar calor tão tórrido, com a agravante de uma grande percentagem de humidade. E, foi assim, que no dia seguinte, completamente fascinados com a beleza paradísiaca da Ilha de Moçambique, partimos para Mocímboa da Praia, mas já condicionados a um barco de pequenas dimensões que fazia as pequenas viagens na Costa. A viagem não se tornando tão agradável, ganhou outra dinâmica pela curiosidade pelo desconhecido e pelo prazer da aventura. No entanto, os enjôos foram difíceis de suportar...

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

UM ADEUS AO MEU QUERIDO IRMÃO GÉMEO JOÃO FILIPE
Um breve e grande interregno da alma!
O momento é de silêncio e de enorme tristeza! Faltam as palavras e não há palavras para dizer o que tão profundamente se sente. Não se podem nem devem inventar palavras quando se esgotam à partida por um motivo funesto que é o dessa viagem sem regresso. É assim a morte, vil e traiçoeira, silenciosa e brutal. Tudo acaba no momento em que surge. O luto no preto ganha aos nossos olhos um certo conforto e um distanciamento das coisas banais. A vida paralisa os gestos e a vontade de caminhar. A Saudade instala-se revestida de uma dor que se pensa impossível, porque a viver das recordações. São assim os primeiros tempos. Inconformação, desalento choro até às lágrimas ou a vontade de gritar. Também a raiva por aquilo que se não fez, entremezes que a vida tece. E a grande vontade de tudo voltar a ser como era dantes! As recordações felizes começam a desfilar a nosso bel-prazer, e nesse regresso da morte, as ilusões dos dias felizes acompanham-nos e desfilam numa cinética tão movimentada e colorida e numa entoação tão real que nos confunde e conforta por longos momentos. Uma morte recente aconteceu. A do meu querido irmão gémeo, João Filipe. Cortou-se finalmente o cordão umbilical que tão fortemente nos unia. E nem sequer tive tempo de lhe dizer adeus! Só depois e já na sua fronte incrivelmente gelada lhe deixei um beijo da minha ternura e devoção que durante toda a vida me mereceu. E te rogo também meu querido e adorado mano..."se lá no assento etéreo onde subiste/ memórias desta vida te consente..." Que a vida para além da morte seja uma VERDADE! Beijo-te onde quer que estejas. A tua inseparável irmã a tua gémea " ó grande Bé" ...