sexta-feira, 22 de outubro de 2010

domingo, 3 de outubro de 2010

QUE OUTONO É ESTE

são penas caídas

espalhadas no chão

são rostos da vida

que morrem em vão

despidas das árvores

sem folhas sem folhos

ficam na nudez

no pranto dos olhos

erguidos fantasmas

crepúsculo outonal

no rubro da espera

que atento seduz

ganha-se outra luz

tão só e mais triste

nas sombras em vão

perdidas na cor

espalhadas no chão...

são penas caídas

tolhidas no tempo

deste tempo, são

mágoas aquecidas

tão só acrescidas

no meu coração

isabelmonteiro

quinta-feira, 30 de setembro de 2010


Leva-me então amor, chama por mim

a espera é tão longa quero estar contigo

Foram-se as flores e os bancos no jardim

Lembras-te? Dos lagos das pombas...Tudo tão florido!


Aguarela nos meus olhos a caber-me inda agora

nos passos desacertados que o coração levava em mão

e havia um céu na terra ardente e a nossa hora

era como bagagem na alma escondida, uma intenção


Revejo-me no quadro. Tento agarrar esse calor brando

Que as tuas mãos à minha volta apertavam como se o sol

Farto do céu azul num incentivo dado, aos dois falando...


Sorriso de tanta coisa à volta que a palavra acorda

brandamente no meu adormecer inquieto, errando

Amarga é a saudade que em tão alta nuvem mora...



Isabel Ribeiro Monteiro

30/09/2010



segunda-feira, 6 de setembro de 2010




AÇORES/ Ilha de S.Miguel




É uma tela sobre o mar
que o olhar gasta e consome`
é esta sede e esta fome
de dizer...
É este aperto no peito
que suporta arrasa e cala
É este gritar da terra
Seiva sangrenta a correr
É este cheiro do mar
É este verde matina
Cheio de névoa e de cor
É esta subida ao céu
Neste jazer infinito
Jardins suspensos, magia
O debruçar da amurada
Silente paz orvalhada
onde o pobre olhar se esgueira
e a palavra não se alcança...
É esta voz este canto
Sopro névoa solidão
vento em surdina que passa
Colhe no ar as palavras
promessas nas minhas mãos...
Em soluço e doce pranto
É esta Ilha de encanto
Perpétuo sacrário em flor
no basalto austero e frio...
E nos âmagos de mim
a própria voz talha a pedra,
tomba a folha no jardim
na paz secreta e dorida,
voz da terra voz do mar
que levo no coração
e transporto no olhar.




isabelribeiromonteiro
20/08/2010


sábado, 26 de junho de 2010

TUDO SE PERDE AO LONGE ... JÁ NÃO HÁ MAIS NADA!



Tudo se perde ao longe

já não há mais nada.

Sentir é nada

se existir não pode

tanta rota ignorada

Tanto gesto inútil

nessa sombra do repouso vão

que por si se explica

ou talvez não

nada se explica

rigorosamente nada!

Voam as pombas

na imaginação

de um céu volátil

que se abate

quando a chuva cai

se tudo acaba tudo se vai

nada se detém

à sorte dura

Alcova térrea

onde tudo passa e esquece

da alma o refrigério...

ruas sem nome

dos números se é cativo

marmóreo branco

tecido numa só luz

ali mora a verdade na espera sempre em vão

Dormem ciprestes e roseirais sombrios

sussurra o vento, soltam-se os pardais

em lancinantes pios

serenata tardia melancólica e triste

estende-se a vida que o olhar consome

de nunca haver mais nada

prisioneira da inútil estaca

e de uma simples matemática:

nada a somar ou a subtrair

nada a multiplicar ou a dividir

Amálgama confusa do sentir...

quarta-feira, 2 de junho de 2010





És tu
meu amor
és tu
que vens lá?

Eu correndo
fugindo
qual gazela
em fuga
eu sei
que na curva
eu sei
que está lá
calado e sereno
olhar
facho e luz
de mãos estendidas

não demoro já
eu sei
meu amor
eu sei
que estás lá

vou já
já lá vou...

sexta-feira, 14 de maio de 2010

aniversário 15/05

NUNCA MAIS
te verei chegar
de carro
e no teu olhar distraído
acendendo um cigarro

NUNCA MAIS
te verei chegar
da nossa janela
onde tudo
tinha um sentido
a qualquer hora
que chegasses
e me encontrasses
à espera

NUNCA MAIS
te verei chegar
quando absorta
na distância
ouvia a melodia
do teu assobio familiar

NUNCA MAIS
te verei chegar
paraste no centro
da minha vida
e todo o mundo
que irradiava
à nossa volta
parou
à nossa porta

estática
fico no silêncio
mordendo todo
o passado
que quero
como recordação
Oh!soubesse
eu saboreá-lo
no tempo
de agora
que me foge
e trai

porque nunca mais
te verei chegar!

sexta-feira, 9 de abril de 2010

O CANTAR DO SIMBA



MOCIMBOA-(SIMBA), terra de leão.
E quando um dia em Lourenço Marquesnço Marques, onde permanecemos durante os primeiros seis meses , me perguntaram qual o nosso destino a seguir e lhes disse que era Mocimboa da Praia...lá para os confins do norte de Moçambique,distrito de Cabo Delgado, a surpresa da resposta era sempre a mesma!Alguns com conhecimento da terra e também à laia de conforto iam dizendo... Para onde a senhora vai e tão novinha. Aquilo é a Coreia do Norte ...vai para onde o sol se esconde...Olhe que até andam os leões a passear nas ruas e os leopardos espreitam as capoeiras e escuta-se, pela noite fora e com horror, o gargalhar das hienas (Kizumbas) e com as chuvadas, as tarântulas entram quase em procissão dentro das casas!!!! Com estas notícias,sentia-me cada vez mais aventureira mas ficava cada vez mais horrorizada! Mas não conseguia medir tais medos. Era a primeira vez que pisava terras de África! E sobretudo o mato africano. Não me mentiram.Ouvi algumas vezes o CANTAR DO SIMBA,leão, no rio Quinhevo que distanciava da nossa casa 5Km!Mas era como se ali estivesse muito perto de nós..."Ih senhora não vais ter medo, não, o simba está a cantar ali no rio Quinhevo". Não sei o que era para eles aquela distância! À noite,também nitidamente ,se ouvia o seu arfar. Só não vi foi os elefantes, mas observei as patas agigantadas desenhadas no chão das picadas, os imensos rastos,o seu cheiro intenso que na selva se espraiava e sentia pavor sempre que acompanhava meu marido, nas suas visitas sanitárias, às regiões de Mueda e de Palma que faziam parte da Circunscrição e Delegacia de Saude de Mocimboa da Praia.E a carrinha lá se ia aguentando pelos trilhos das picadas...Eram 80 Km de suplícios pois ambas as terras, distanciavam 80K. Uma para o interior,outra para o litoral.Escusado será dizer que na época das chuvas não se podia sair para lado nenhum. Somente de avião ou de barco.
E, porque foi este grito que me ficou e me marcou profundamente, o cantar do Simba,e porque tive a oportunidade de conhecer esta, e afinal, maravilhosa terra onde todos juntos, falo das outras famílias ,éramos uma família, incluindo muitos casais de cor,e porque fui feliz e me nasceu lá uma dos filhos , e porque eu soube tão bem abraçar estas e outras viagens das arábias com coragem e entusiamo, e porque tive o ensejo de conhecer os macondes,povo guerreiro e figuras muito peculiares com as suas tatuagens originais e que impunham algum medo e de lidar com as suas mulheres e crianças de forma muito própria,até se humanizarem e porque tudo tinha um encanto inefável, incluindo a sua natureza agreste, e também o centenário e enorme cajueiro que envolvia parte da grande casa que habitámos durante ano e meio, e onde os corvos iam mitigar sedes, bebendo o sumo do caju para tombarem, logo a seguir, tontos no chão...e porque a luz do gerador eléctrico da Administração fechava às 23 horas e ao terceiro sinal dado, tínhamos que acender os pétromax e recorrer também às velas ...E, por tudo isto e tanto por aquilo que juntos vivemos, adaptando-nos a todas as circunstâncias e porque enriquecemos tão exoticamente as nossas vidas e porque volvidos tantos anos, meu Deus, e hoje me sabe tão bem recordar...KANIMAMBO!KANIMANBO!!!!!!!!!!!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Despedida

>DESPEDIDA >

Falam lenços agitados
aos nossos olhos molhados
entre tanta comoção
lenços erguidos perdidos
trazem na sua mensagem
invernos de liberdade
ilusões esperanças mágoas
a este cais da saudade

cais deserto cais sombrio

frágeis tiras de papel
em estranho festival
nas velas soltas ao vento

murmúrio já vem do mar
num suspiro vertical
cerca o silêncio do tempo

segue o navio para o mar
em rasgos de liberdade...
distante longe do tempo
vislumbro ainda a partida
no cais da minha saudade.

segunda-feira, 5 de abril de 2010





















Sou uma saudosista por natureza. Mas gosto de ser assim. Não me queixo e ninguém se aborrece. Falo comigo, olho os longes, viajo, olho os espaços, o mar o céu o sol a lua o dia e a madrugada choro rio atropelam-me as recordações arrepelam-me as saudades mas volto sempre... Tanto turbilhão nestes vôos alargados que a memória vai consentindo...Depois tudo tem cheiro cor música ritmo alegria tristeza ansiedade partida regresso...Um vaivem infernal do pensamento deambulante até às tantas da madrugada! Que bom é viajar e ninguém dar por estas minhas ausências. Vou e venho quando quero e sempre que me apetece. Não tenham dúvidas. Sermos donas de nós próprias e sabermos navegar orientando bússolas sermos timoneiros do nosso destino no mar na terra no ar assim olhando flores animais peixes pombas corvos borboletas cigarras em festa os paraísos secretos e tudo libertado e eu vestindo leve saltando leve voando leve cantando sempre a vida breve que foi tão longa verdadeira num sonambulismo adivinhada...Só não consigo a vibração nas coisas retratadas. Essa a grande luta e a gritante frustração!. O resto é perfeito.Vejo tudo e todos com uma enorme e inesgotável clareza! Demoro o tempo todo que no apetite cabe. Os sentidos abrem-se em leque e quase sinto oiço vejo toco cheiro neste perder países viajando! . E, quanto mais longe me ausento, mais o retrato de tudo é mais perfeito. As acácias em flor o cheiro do caril a forte maresia do Índico o aveludado da paisagem e tudo a perpassar nas coisas de leve quase sussurrando... o zumbir do mosquito o cantar do simba o arrastar do leopardo velho o crocitar do corvo o gargalhar da Kizomba o riso cristalino das crianças o parque dos baloiços as rodas as corridas as cantigas as vozes ai as vozes na voz a chamar...Regresso doloroso. Aceno mais uma vez. A minha liberdade! Esta a minha liberdade amarrada à escrita de onde tudo sai... O grito os olhos rasos de água a garganta apertada o peito dolorido a mágoa a cabeça vazia a memória acordada... Chego ao ponto de partida. O navio larga as amarras a sirene vibra no espaço o último aceno o marulhar das ondas o mar o céu o dia o Sol a noite as estrelas a lua...Ó meu Deus! Esqueci-me que era hoje o dia da partida. Dia 24 de Agosto de 1957, rumo a África / Moçambique.
Ficarei à espera no cais... "quando se fez ao largo a nau na noite escura/ na praia aquela mulher ficou chorando..."



sexta-feira, 2 de abril de 2010




a cobra verde
caiu
subitamente

da árvore
e soou
trás pás
no chão
da terra


confundiu-se
de repente
~ com o viés verde
do vestido verde
feito todo folhos
caído no chão


e foi
a confusão
dos ramos
e das folhas
e dos folhos
e das vozes
e dos gritos
e dos passos
apressados
e dos olhos
desmedidos
de aflição


a cobra
esgueirava-se
no chão


pergunto
a Xandreco
- faz mal
cobra verde?

-Ih senhora!

cobra verde

faz mal

não!

mas é cobra...


e da cobra verde
apenas o rabo
a rolar no chão...




sexta-feira, 26 de março de 2010

...E floresce a manhã com algum sol de consolação. Encharcados andamos todos de chuva e de política. As pessoas passam e não olham. O vazio é agora também o vazio das suas vidas. Do seu olhar. Assiste-se ao desenrolar de dramas plangentes! Contam-se os cêntimos com a certeza de que não dá para o medicamento principal...sim, esse levo que é o mais barato...e dizem que para a saude não há preços! E repetem-se as cenas em quase toda a parte onde só o dinheiro conta...De facto, com a crise instalada, qualquer vida se confunde. Com excepção de alguns. Uns poucos sérios, outros bafejados pela sorte, incluindo o pessoal da televisão, os políticos e todos os corruptos deste país que sabem conter-se e fugir com o rabo à seringa e que igualmente atinge a classe do poder... Qualquer picadela poderia ser o fim...Mas haverá justiça neste país? Toda a gente sabe que não. O que se sabe é que nunca houve tantos ricos a florescer tão de repente!!!!Escandaloso. Um encolher de ombros e um salve-se quem puder e segue em frente. No meio do caminho, todos os pobres de Cristo encontram pedregulhos difíceis de transpor, os outros agarram nas pedras e atiram-nas aos incautos e aos que nada podem fazer...Triste do país que, utopicamente e desgraçadamente, assim continua! As pessoas passam tristes e medem o chão que pisam...outros refilam por tudo e por nada. Tudo nasce do nada que é tudo! O povo português marcado pelo fatum, fado da sua existência, anda cada vez mais triste. Impera a imbecilidade dos valores opostos e das revistas cor-de-rosa narrando vidas que se ajustam nas plásticas inconformadas e, que se vendem depois para as notícias com a febre da notabilidade! Também a mediocridade de uns fazem a felicidade de outros .... Entretanto, os alunos cascam nos professores, os filhos confrontam os pais, os velhos são desprezados, as crianças abandonadas, as mulheres violentadas, os incautos assaltados, os criminosos soltos, os pedófilos perdoados e assim, a tragédia é notícia e a comédia triste da vida, hilariante! Ganham-se fortunas e perdem-se empregos. Mas dizem que tudo vai de vento em popa! As pessoas andam tristes, mais tristes do que a própria tristeza que imaginar não sabe. Com lágrimas nos olhos, disfarçam-nas, nos óculos escuros. Correm por caminhos tortuosos que a própria vida já não consegue calcetar. "O povo português é triste mesmo quando sorri".Oh meu caro, Unamuno, se o olhasses agora...e parafraseando Camões, embora noutro contexto, poder-se-á dizer...o povo caminha com o seu olhar perdido e triste e com os olhos"tão cansados/ tão chorosos/ da morte mais desejosos/ cem mil vezes do que a vida!" E lá vão de olhar vazio e de coração apertado, aguardando ... Até quando? Até quando!O Inverno da nossa tristeza!

quinta-feira, 25 de março de 2010


Lá fora, a chuva cai incessantemente e parece não querer deixar-nos tão depressa. A humanidade dolorida segue em frente. Fecha os olhos de míope e conta consigo tão só e defraudada pelos acontecimentos de todos os dias.Chora e lamenta-se todo o tempo. Baralha o próprio tempo. E ninguém para escutar! Para quê perder-se tempo com os outros? Chora talvez porque deixou passar demasiados anos...! Os de ontem, os do passado. E agora, devidamente arrumados em fotos e mensagens do coração, nas prateleiras e nas gavetas dos papéis que mais ninguém lê. Também lhes chamam recordações. Cada um tem a liberdade de viver e de acolher o que mais lhe aprouver. Sem passado não há presente e o futuro é uma incógnita sem referências.Que venham dizer o contrário. Que venha também a Primavera para adoçar o refrigério da alma. Sonolenta a noite cai...E o silêncio conforta estas madrugadas tão cheias de memória. Que vida se viveu tão recheada de espaços de êxtases de sóis de luares... Que trocadilhos os anos somaram sem dar tempo para gozar, pensa-se agora, aquelas horas maravilhosas e verdadeiras. Como se tivessemos todo o tempo acorrentado a nós...Somam-se os anos... Tudo na vida é tão célere! Que é feito dos sonhos arquitectados ontem, na ganânca da juventude ? Dos sonhos construídos em torres de marfim? Tanto amor, tanto amor! Que tempo feliz foi! Fecham-se os olhos e encosta-se a cabeça entre as mãos. Para acordar recordações... Renega-se, logo a seguir, o pensamento que de longe vem na tormenta de um mar longínquo, esvaziado em fluxos e refluxos que já se desfizeram noutras ondas e marés... . São estas as noites em que se permanece mais só e em que se mora mais perto de tudo o que se foi. O bulício do dia causa-nos naúseas e cansaços. Quanto ao vento que sempre sopra rijo por estes lados, continua bailando com a chuva. Até a velha palmeira hirta e desgrenhada que se ergue por detrás do espaço em que se habita, vai vencendo as intempéries. Resiste. A humanidade também vai resistindo sem saber bem porquê e até quando! E a divagação já não tem discurso que se endireite. É noite alta. No refúgio, na vida que nos vai restando... Chove lá fora...Sinfonia de rendilhados breves que ninguém ousa pintar. Só eu, assim tão verdadeira como a chuva que batendo na vidraça clama ou chama? Como se não houvesse mais ninguém para a escutar! O estalido na madeira o calor do espaço o silêncio do vazio...são horas e o amanhã é para acordar. São três horas da manhã. Boa noite!

segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

....e depois do adeus para sempre...que é tanto tempo!




Ontem sonhei contigo...

estavas ao meu lado

como se o sol

entrasse pela janela

indiscreta

que se abriu



...e o grito de raiva
que ninguém ouviu!