sexta-feira, 26 de março de 2010

...E floresce a manhã com algum sol de consolação. Encharcados andamos todos de chuva e de política. As pessoas passam e não olham. O vazio é agora também o vazio das suas vidas. Do seu olhar. Assiste-se ao desenrolar de dramas plangentes! Contam-se os cêntimos com a certeza de que não dá para o medicamento principal...sim, esse levo que é o mais barato...e dizem que para a saude não há preços! E repetem-se as cenas em quase toda a parte onde só o dinheiro conta...De facto, com a crise instalada, qualquer vida se confunde. Com excepção de alguns. Uns poucos sérios, outros bafejados pela sorte, incluindo o pessoal da televisão, os políticos e todos os corruptos deste país que sabem conter-se e fugir com o rabo à seringa e que igualmente atinge a classe do poder... Qualquer picadela poderia ser o fim...Mas haverá justiça neste país? Toda a gente sabe que não. O que se sabe é que nunca houve tantos ricos a florescer tão de repente!!!!Escandaloso. Um encolher de ombros e um salve-se quem puder e segue em frente. No meio do caminho, todos os pobres de Cristo encontram pedregulhos difíceis de transpor, os outros agarram nas pedras e atiram-nas aos incautos e aos que nada podem fazer...Triste do país que, utopicamente e desgraçadamente, assim continua! As pessoas passam tristes e medem o chão que pisam...outros refilam por tudo e por nada. Tudo nasce do nada que é tudo! O povo português marcado pelo fatum, fado da sua existência, anda cada vez mais triste. Impera a imbecilidade dos valores opostos e das revistas cor-de-rosa narrando vidas que se ajustam nas plásticas inconformadas e, que se vendem depois para as notícias com a febre da notabilidade! Também a mediocridade de uns fazem a felicidade de outros .... Entretanto, os alunos cascam nos professores, os filhos confrontam os pais, os velhos são desprezados, as crianças abandonadas, as mulheres violentadas, os incautos assaltados, os criminosos soltos, os pedófilos perdoados e assim, a tragédia é notícia e a comédia triste da vida, hilariante! Ganham-se fortunas e perdem-se empregos. Mas dizem que tudo vai de vento em popa! As pessoas andam tristes, mais tristes do que a própria tristeza que imaginar não sabe. Com lágrimas nos olhos, disfarçam-nas, nos óculos escuros. Correm por caminhos tortuosos que a própria vida já não consegue calcetar. "O povo português é triste mesmo quando sorri".Oh meu caro, Unamuno, se o olhasses agora...e parafraseando Camões, embora noutro contexto, poder-se-á dizer...o povo caminha com o seu olhar perdido e triste e com os olhos"tão cansados/ tão chorosos/ da morte mais desejosos/ cem mil vezes do que a vida!" E lá vão de olhar vazio e de coração apertado, aguardando ... Até quando? Até quando!O Inverno da nossa tristeza!

quinta-feira, 25 de março de 2010


Lá fora, a chuva cai incessantemente e parece não querer deixar-nos tão depressa. A humanidade dolorida segue em frente. Fecha os olhos de míope e conta consigo tão só e defraudada pelos acontecimentos de todos os dias.Chora e lamenta-se todo o tempo. Baralha o próprio tempo. E ninguém para escutar! Para quê perder-se tempo com os outros? Chora talvez porque deixou passar demasiados anos...! Os de ontem, os do passado. E agora, devidamente arrumados em fotos e mensagens do coração, nas prateleiras e nas gavetas dos papéis que mais ninguém lê. Também lhes chamam recordações. Cada um tem a liberdade de viver e de acolher o que mais lhe aprouver. Sem passado não há presente e o futuro é uma incógnita sem referências.Que venham dizer o contrário. Que venha também a Primavera para adoçar o refrigério da alma. Sonolenta a noite cai...E o silêncio conforta estas madrugadas tão cheias de memória. Que vida se viveu tão recheada de espaços de êxtases de sóis de luares... Que trocadilhos os anos somaram sem dar tempo para gozar, pensa-se agora, aquelas horas maravilhosas e verdadeiras. Como se tivessemos todo o tempo acorrentado a nós...Somam-se os anos... Tudo na vida é tão célere! Que é feito dos sonhos arquitectados ontem, na ganânca da juventude ? Dos sonhos construídos em torres de marfim? Tanto amor, tanto amor! Que tempo feliz foi! Fecham-se os olhos e encosta-se a cabeça entre as mãos. Para acordar recordações... Renega-se, logo a seguir, o pensamento que de longe vem na tormenta de um mar longínquo, esvaziado em fluxos e refluxos que já se desfizeram noutras ondas e marés... . São estas as noites em que se permanece mais só e em que se mora mais perto de tudo o que se foi. O bulício do dia causa-nos naúseas e cansaços. Quanto ao vento que sempre sopra rijo por estes lados, continua bailando com a chuva. Até a velha palmeira hirta e desgrenhada que se ergue por detrás do espaço em que se habita, vai vencendo as intempéries. Resiste. A humanidade também vai resistindo sem saber bem porquê e até quando! E a divagação já não tem discurso que se endireite. É noite alta. No refúgio, na vida que nos vai restando... Chove lá fora...Sinfonia de rendilhados breves que ninguém ousa pintar. Só eu, assim tão verdadeira como a chuva que batendo na vidraça clama ou chama? Como se não houvesse mais ninguém para a escutar! O estalido na madeira o calor do espaço o silêncio do vazio...são horas e o amanhã é para acordar. São três horas da manhã. Boa noite!