Minhas noites africanas
No negrume
Denso agreste
Lembrar-vos
Causa arrepio
De quem vos sentiu
Tão perto
África
Mistério aventura
Foste paz
No meu deserto
Na noite de tantos anos
Na noite de tantos ais
As vozes vêm chegando
Da selva inteira crispada
Ruídos silvos estranhos
Vultos que se movem sem ver
Numa feroz gargalhada
Corujas simbas quizumbas
São gritos qu’inda transporto
Como orquestra na memória
E quando o dia raiava
Em grandes bandos os corvos
Atacando o cajueiro
Debicando e sugando
O líquido que os saciava
Sem terem outra razão
Caíam tontos no chão
E eram luto nos meus olhos
Tudo temia e enfrentava
Na coragem dos teus sóis
Brilhando nos milheirais
E quando a terra abafava
E tudo à volta fervia
A tromba de água caía
Açoitando os areais
Da tua terra molhada
O cheiro que se bebia
Era néctar o perfume
Colhido do incenso agreste...
E tudo mais se esquecia
Do mundo nada sabia
Saudade do teu saber
Saudade não sei dizer
De tudo quanto nos davas
De tudo quanto nos deste
Minhas noites africanas
Quantos segredos e medos
Quanta ventura e esperança
Quanta angústia e tanta espera
Quanta vida e tanto ardor...
A ti voltaria um dia
Pela mão do meu amor!
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