domingo, 15 de novembro de 2009



Minhas noites africanas

No negrume

Denso agreste

Lembrar-vos

Causa arrepio

De quem vos sentiu

Tão perto

África

Mistério aventura

Foste paz

No meu deserto

Na noite de tantos anos

Na noite de tantos ais

As vozes vêm chegando

Da selva inteira crispada

Ruídos silvos estranhos

Vultos que se movem sem ver

Numa feroz gargalhada

Corujas simbas quizumbas

São gritos qu’inda transporto

Como orquestra na memória

E quando o dia raiava

Em grandes bandos os corvos

Atacando o cajueiro

Debicando e sugando

O líquido que os saciava

Sem terem outra razão

Caíam tontos no chão

E eram luto nos meus olhos

Tudo temia e enfrentava

Na coragem dos teus sóis

Brilhando nos milheirais

E quando a terra abafava

E tudo à volta fervia

A tromba de água caía

Açoitando os areais

Da tua terra molhada

O cheiro que se bebia

Era néctar o perfume

Colhido do incenso agreste...

E tudo mais se esquecia

Do mundo nada sabia

Saudade do teu saber

Saudade não sei dizer

De tudo quanto nos davas

De tudo quanto nos deste

Minhas noites africanas

Quantos segredos e medos

Quanta ventura e esperança

Quanta angústia e tanta espera

Quanta vida e tanto ardor...

A ti voltaria um dia

Pela mão do meu amor!

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