segunda-feira, 10 de agosto de 2009

África minha (1957/1974)


Foi talvez em África, espaço de infinitos e matizados horizontes e que a memória não esquece, que vivi os 17 anos mais celebrados e felizes da minha (nossa) vida. E, tudo me faz voltar a essas recordações que se foram, conjungando-as com o nascer dos nossos filhos. Meu marido foi médico em África. Com ele, percorremos os espaços exóticos que vão desde os distritos de Cabo Delgado , passando pelo do Niassa, Zambézia, Sul do Save até à fixação dos últimos quatro anos na cidade de Nampula. De tudo o que aí me deixou presa, registo, numa breve e sentida alusão, já gravada e escrita no meu livro, África nos Socalcos da Memória, 1998, que é quase um grito um hino uma saudação à ÁFRICA desse nosso/vosso tempo

...Distância marcada pelos horizontes sem fim mistura de selva e deserto de coloridos e sons múltiplos que a Natureza oferece naturalmente como orquestra implantada no seu seio com todos os sustenidos e bemóis a compor os ritmos das suas melodias e ritmos
Dos tantãs a comunicar na distãncia ao toque dos marimbeiros a fazer requebrar de forma única o seu corpo inteiro
África da nudez natural da cor morena estonteante! África a erguer-se nas manhãs claras para adormecer na languidez da noite no seu corpo cansado
África dos mistérios nocturnos das caçadas do coração a bater no emaranhado da selva escura na tentação de desvendar os seus íntimos segredos
África das Impalas amedrontadas e do olhar fascinante do leão dominador
Das pegadas gigantescas do elefante a pôr em debandada os grandes sonhadores das aventuras ímpares...
África minha risonha dos dias quentes que se eternizavam e que bebiam na noite a beleza inefável de uma Lua verdadeira já que no hemisfério Sul
África saudade das chegadas e partidas das viagens no teu seio a albergar os filhos de todos nós
África suor no rosto por tudo o que foi erguido. Na tua seiva bruta a nossa elaborada
África dos medos e dos receios vencidos
África fraterna nesse caminhar de mãos dadas
Que é de tantos anos?
Que é das noites de solidão e dos risos de todas as manhãs?
África minha e de todos vós
África a caber no coração de Portugal
África...
Onde estás agora?!

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