


Chegámos a Mocímboa da Praia numa manhã ardente de verão africano! A viagem de Lourenço Marques até aquelas paragens demorou dois longos dias. Embarcámos no paquete Principe Perfeito até à Ilha de Moçambique onde desembarcámos. Eu, o meu marido e um filho de dois anos, o Zé. Ali fomos recebidos pelo Delegado de Saude e sua família que, para nós, naquelas lonjuras, se tornou o melhor porto de abrigo, já que deixávamos Portugal e a família pela primeira vez. Recordo, com saudades, que levava dobrado no braço um rico e lindo casaco de caraculo verde, que aos olhos de todos se traduzia por um belo agasalho de inverno! E, logo, o colega do meu marido, que nisso reparou, me disse, desta forma irónica:-Oiça lá, por que é que trás esse casacão para África? Fique sabendo que quando chegar ao destino, terá que o guardar na arca porque nunca o vestirá!...Estava longe de saber que tipo de calor iria enfrentar!!... Lá me agarrei ao casaco com mais força, numa tentativa de protecção do mesmo e com imensa pena de não o poder exibir. E, de facto, assim aconteceu. Grande sentença. Lá ficou guardado numa das minhas arcas, durante alguns anos que permanecemos em África, exceptuando Lourenço Marques e Vila Cabral, onde o frio se fazia sentir, na época do cacimbo. Também, nunca pensei poder suportar calor tão tórrido, com a agravante de uma grande percentagem de humidade. E, foi assim, que no dia seguinte, completamente fascinados com a beleza paradísiaca da Ilha de Moçambique, partimos para Mocímboa da Praia, mas já condicionados a um barco de pequenas dimensões que fazia as pequenas viagens na Costa. A viagem não se tornando tão agradável, ganhou outra dinâmica pela curiosidade pelo desconhecido e pelo prazer da aventura. No entanto, os enjôos foram difíceis de suportar...